Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de julho, 2022

Um lugar pra caminhar devagar

 Eu sinto muita falta de escrever sem nenhum propósito, sem pensar em post, tweet, vídeo ou qualquer outra forma de tonar essa atividade tão apaixonante em algo que possa ser apreciado. Eu sinto falta de escrever por escrever. Conversar comigo, enquanto desembolo os nós da minha cabeça sem pensamentos intrusivos que dizem "hum, se der menos de 2200 caracteres dá pra postar no instagram" ou "mas se ficar aqui no blog mesmo preciso pensar formar de anunciar nas redes". Preciso ser vista, preciso satisfazer, preciso ser apreciada. Sinto falta de só precisar escrever.  

Pandemônica: Capítulo 03

  Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica , uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020 Terça, 24 de março de 2020 7º dia de quarentena 10:38 Quero dançar todos os dias pois cada dia vai ser mais difícil não pensar. Quero dançar todos os dias pra manter aberto o canal de comunicação com meu corpo e eu possa entender do que ele precisa. Quero dançar todos os dias pra fazer um movimento nessas horas em que me sinto com mãos e pés atados. Quero dançar todos os dias porque não sei até quando vou poder fazer isso.

Pandemônica: Capítulo 02

Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica , uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020 Terça, 27 de julho de 2021 Notícias do dia Talvez eu precise de muitos minutos de silêncio pra perceber que o tempo é uma coisa que estica e puxa, como quando a gente aumenta ou diminui a velocidade de um áudio no Whatsapp. O presente determina quanto tempo o tempo vai durar. No presente, sento pra ver o céu mudar de cor rapidamente, nos minutos finais da tarde, enquanto tento ficar em silêncio e me perceber como essa mulher de quase 37 anos. Definitiva e oficialmente mais perto dos 40 que dos 30, vendo os 20 e poucos, que parecem ter sido ontem, ficarem pequenos na paisagem diante de tudo o que veio depois. O que tem nesse caminho? Do “pico” da juventude pras portas da maturidade? Quem inventou esses limites e determinou essa geografia? Eu me sinto subindo e descendo todos os dias. Abrindo e fechando portas durante todo

Pandemônica: Capítulo 01

Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica , uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020. 12 de março de 2021 A gente já sabia que eventualmente o mundo vai acabar. Assim como todas as outras coisas, a nossa passagem por esse planeta vai chegar ao fim. Eu acordo lendo e ouvindo notícias do fim do mundo há um ano. Há um ano milhares de mortes (agora diárias) pesam sobre a nossa cabeça. Há um ano a nossa efemeridade é jogada violentamente na nossa cara e, ainda assim, as pessoas parecem não ver. Carregamos uma bomba-relógio de dor, cólera e medo na barriga há um ano, pronta para fatalmente explodir a qualquer momento. Medo de perder nossas pessoas queridas, medo de não ter como pagar as contas, medo de sair na rua, de precisar de atendimento médico, medo de respirar. Medo de puxar o ar e não saber se ele não vem por conta de uma das crises de ansiedade diárias ou porque você se tornou mais um número na estatísti

O feminismo punitivista é uma armadilha

  Foto: Unsplash  *Reprodução do artigo de opinião publicado no Portal Catarinas .   Postado em 04/07/2022, 14:50 Por Lívia Reis Não tem sido nada fácil ser mulher no Brasil nessas últimas semanas. Nunca foi, na verdade, mas a carga de misoginia, ódio e violência dos últimos acontecimentos demonstram que ser mulher e brasileira é doloroso, arriscado e assustador. Uma menina de 11 anos teve seu direito legal ao aborto negado e foi coagida por representantes do judiciário a manter a gestação indesejada e extremamente arriscada até o fim; após vazamento criminoso de suas informações médicas, uma atriz de 21 anos foi forçada a levar a público a violência sexual que sofreu, uma vez que, apesar de não ter lançado mão de seu direito ao aborto, também foi alvo de ataques perversos, por ter escolhido parir e entregar a criança para a adoção. O que exigiam de uma, não foi suficiente para a outra. Num julgamento inquisitório sem direito a defesa, ambas foram condenadas, apedrej