Pular para o conteúdo principal

Pandemônica: Capítulo 02

Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica, uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020

Terça, 27 de julho de 2021

Notícias do dia

Talvez eu precise de muitos minutos de silêncio pra perceber que o tempo é uma coisa que estica e puxa, como quando a gente aumenta ou diminui a velocidade de um áudio no Whatsapp. O presente determina quanto tempo o tempo vai durar.

No presente, sento pra ver o céu mudar de cor rapidamente, nos minutos finais da tarde, enquanto tento ficar em silêncio e me perceber como essa mulher de quase 37 anos. Definitiva e oficialmente mais perto dos 40 que dos 30, vendo os 20 e poucos, que parecem ter sido ontem, ficarem pequenos na paisagem diante de tudo o que veio depois.

O que tem nesse caminho? Do “pico” da juventude pras portas da maturidade? Quem inventou esses limites e determinou essa geografia?

Eu me sinto subindo e descendo todos os dias. Abrindo e fechando portas durante todo o percurso, a cada passo dado. Quem me convenceu de que daqui é só pra baixo? Por que será que me deixei convencer? Passa o tempo, ficam as dúvidas.

A luz da tarde acaba, chega a noite. Mas daqui algumas horas, rápidas ou vagarosas, o sol volta. O ciclo recomeça, de novo e de novo…

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pandemônica: Capítulo 04

  Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica , uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020     Quinta, 08 de julho de 2021  Um avião passa no céu, fazendo um rastro de fumaça. Penso ser uma estrela cadente. Se uma estrela cadente fosse, eu teria três pedidos: viver muitos anos, ser feliz e mudar o mundo. Coisa à toa. Mas se tivesse um só, pediria, sem dúvida, pra viver muitos anos. Pra cair bastante, errar bastante, levantar bastante e seguir tentando acertar. Porque viver nesse mundo é horrível, mas também é maravilhoso demais.        

Um lugar pra caminhar devagar

 Eu sinto muita falta de escrever sem nenhum propósito, sem pensar em post, tweet, vídeo ou qualquer outra forma de tonar essa atividade tão apaixonante em algo que possa ser apreciado. Eu sinto falta de escrever por escrever. Conversar comigo, enquanto desembolo os nós da minha cabeça sem pensamentos intrusivos que dizem "hum, se der menos de 2200 caracteres dá pra postar no instagram" ou "mas se ficar aqui no blog mesmo preciso pensar formar de anunciar nas redes". Preciso ser vista, preciso satisfazer, preciso ser apreciada. Sinto falta de só precisar escrever.  

Você suportaria ser torturada só mais um pouquinho?

Arte @bealake     *Reprodução do artigo de opinião publicado no Portal Catarinas .   Postado em 23/06/2022, 11:18 Por Lívia Reis Lívia Reis, especialista em Ciências Criminais, analisa a violação de direitos da menina de onze anos que teve o direito ao aborto legal negado, em Santa Catarina. Imagine que você foi estuprada e, desse estupro, ocorreu uma gestação que, além de obviamente indesejada, coloca a sua vida em risco. Você vai ao hospital, na tentativa de exercer seu direito legal de interromper essa gravidez. Mas, em vez de ser acolhida e apoiada, você é sequestrada. Levada contra a vontade para longe da sua casa, da sua família e da sua rede de apoio por mais de um mês, enquanto tentam te induzir a continuar vivendo esse pesadelo até o fim da gestação. Como se sentiria ao viver isso? E se você fosse uma menininha de 10 anos de idade? Ou fosse sua filha nessa situação? Pode parecer apelativo pedir que nos coloquemos no lugar da criança e da mãe para tentar ent