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Pandemônica: Capítulo 03

 Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica, uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020

Terça, 24 de março de 2020

7º dia de quarentena 10:38

Quero dançar todos os dias pois cada dia vai ser mais difícil não pensar.

Quero dançar todos os dias pra manter aberto o canal de comunicação com meu corpo e eu possa entender do que ele precisa.

Quero dançar todos os dias pra fazer um movimento nessas horas em que me sinto com mãos e pés atados.

Quero dançar todos os dias porque não sei até quando vou poder fazer isso.

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  Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica , uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020     Quinta, 08 de julho de 2021  Um avião passa no céu, fazendo um rastro de fumaça. Penso ser uma estrela cadente. Se uma estrela cadente fosse, eu teria três pedidos: viver muitos anos, ser feliz e mudar o mundo. Coisa à toa. Mas se tivesse um só, pediria, sem dúvida, pra viver muitos anos. Pra cair bastante, errar bastante, levantar bastante e seguir tentando acertar. Porque viver nesse mundo é horrível, mas também é maravilhoso demais.        

Um lugar pra caminhar devagar

 Eu sinto muita falta de escrever sem nenhum propósito, sem pensar em post, tweet, vídeo ou qualquer outra forma de tonar essa atividade tão apaixonante em algo que possa ser apreciado. Eu sinto falta de escrever por escrever. Conversar comigo, enquanto desembolo os nós da minha cabeça sem pensamentos intrusivos que dizem "hum, se der menos de 2200 caracteres dá pra postar no instagram" ou "mas se ficar aqui no blog mesmo preciso pensar formar de anunciar nas redes". Preciso ser vista, preciso satisfazer, preciso ser apreciada. Sinto falta de só precisar escrever.  

Pandemônica: Capítulo 01

Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica , uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020. 12 de março de 2021 A gente já sabia que eventualmente o mundo vai acabar. Assim como todas as outras coisas, a nossa passagem por esse planeta vai chegar ao fim. Eu acordo lendo e ouvindo notícias do fim do mundo há um ano. Há um ano milhares de mortes (agora diárias) pesam sobre a nossa cabeça. Há um ano a nossa efemeridade é jogada violentamente na nossa cara e, ainda assim, as pessoas parecem não ver. Carregamos uma bomba-relógio de dor, cólera e medo na barriga há um ano, pronta para fatalmente explodir a qualquer momento. Medo de perder nossas pessoas queridas, medo de não ter como pagar as contas, medo de sair na rua, de precisar de atendimento médico, medo de respirar. Medo de puxar o ar e não saber se ele não vem por conta de uma das crises de ansiedade diárias ou porque você se tornou mais um número na estatísti